ONDAS – Observatório dos Direitos à Água e ao Saneamento

ONDAS – Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento

Covid-19, desigualdade social e tragédia no Brasil

PANDEMIA, PANDEMÔNIO … PANDORA
Artigo publicado pelo LE MONDE diplomatic Brasil (29/4/2020), discute por que o Amazonas e o Ceará estão entre os principais focos da Covid-19 no Brasil e correlaciona a explosão de casos com os dados de saneamento básico nesses estados. O artigo também, lembra os novos estudos que demonstram a persistência do novo coronavírus nas fezes de pessoas infectadas, mesmo as assintomáticas.
Autores:
. Larissa Mies Bombardi – professora-doutora do Departamento de Geografia da USP
. Pablo Luiz Maia Nepomuceno – técnico do Laboratório de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento – Depto Geografia USP

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Covid-19, desigualdade social e tragédia no Brasil

Por que o Amazonas e o Ceará estão entre os principais focos da Covid-19 no Brasil? Artigo correlaciona a explosão de casos com os dados de saneamento básico nesses estados, e apresenta novos estudos que demonstram a persistência do coronavírus nas fezes de pessoas infectadas, mesmo as assintomáticas

Uma versão corrente do mito grego de Pandora diz sobre a possibilidade – devastadora – de uma caixa, que trazia as mazelas do mundo, ser aberta. Com a abertura da Caixa de Pandora os males da humanidade sairiam e se apresentariam tal como são na realidade.

Prometeu, pai da humanidade, cujo nome também pode ser traduzido como “aquele que vê antes” era irmão de Epimeteu “aquele que vê depois” ou imprudente. Em várias versões do mito a abertura da Caixa está ligada à atuação de Epimeteu junto à Pandora (pan = todos; dora = presente).

De alguma forma a pandemia do vírus Sars-Cov-2 está trazendo à tona de forma muito clara e indelével a grande mazela dessa sociedade dita moderna que, como sabemos, pauta-se por uma profunda desigualdade em âmbito global.

A mundialização da economia, ou globalização, como preferem alguns autores, tem ampliado e aprofundado as assimetrias da já sólida e conhecida divisão internacional do trabalho segundo a qual, cada país, ou bloco de países, “especializa-se” em determinados setores da economia e assume papéis diferentes.

O Brasil, como bem sabemos, tem consolidado seu papel na economia internacionalizada por meio da exportação de produtos primários: basicamente minérios e produtos de origem agropecuária.

Esta escolha de projeto de nação em que temos uma área equivalente ao território da Alemanha cultivada com soja, supostamente um alimento, e, ao mesmo tempo, temos quinze pessoas por dia morrendo de subnutrição no país, tem levado, obviamente, à vivência de uma tragédia cotidiana por centenas de milhares de pessoas.

A pandemia da Covid-19 escancara – de uma vez por todas – o drama da desigualdade social em escala nacional. O drama de um país que está entre as maiores economias do mundo e, no entanto, nem de longe tangenciou duas lições de casa fundamentais – uma delas inclusive preconizada pela ONU no momento de sua criação após a Segunda Guerra Mundial. A saber: a reforma agrária e o chamado direito à cidade.

Pagamos o preço pela desmesurada desigualdade social! Mas, evidentemente, não pagamos igualmente este preço. Como muitos artigos anteriores a este têm mostrado: há um perfil “dos que mais morremos e morreremos”! A morte e os casos de infecção pela Covid-19 não nos atingem igualmentenão nos atingem “democraticamente”!

O que a Covid-19, assim como Pandora, “trouxe à luz”, dentre outros elementos (inclusive o fato de que seu surgimento pode estar relacionado ao modelo agrícola hegemônico) é a assombrosa assimetria dessa sociedade e o risco iminente de que a pandemia tome proporções inimagináveis no Brasil. Alguns mapas nos indicam esta perspectiva de forma muito clara.

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