ONDAS – Observatório dos Direitos à Água e ao Saneamento

ONDAS - Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento

Fumaça, seca e esgoto em Manaus

autor: Sandoval Alves Rocha*

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A Amazônia vive nos últimos meses um drama multifacetado mostrando as dificuldades das populações diante de desafios de diferentes origens. Vivenciamos um permanente mal-estar, testemunhando omissões, crueldades e falta de compromisso dos poderes públicos. Tragédias anunciadas, resultados de ações mal planejadas, crimes ambientais e inépcia política.

Toda a Região Metropolitana de Manaus sofre com a ingestão de fumaça causada por incêndios criminosos no interior e na capital. A forte presença da fumaça prejudica toda a população, provocando problemas respiratórios e agravando outras doenças. A fumaça também mostra uma cidade abandonada pelos gestores que foram eleitos para cuidar dela, mas se omitem diante dos compromissos assumidos em campanhas eleitorais.

A poluição elevou a cidade ao status internacional de segunda pior do mundo para respirar, segundo monitoramento do Sistema Eletrônico de Vigilância Ambiental da Universidade Estadual do Amazonas. A situação vem afetando todos os setores da sociedade: comércio, turismo e serviços como educação, transporte e saúde. A cidade está sufocando!

Outro aspecto preocupante da crise é a falta de água potável aprofundada atualmente pela ausência de chuvas, que atinge toda a região, deixando centenas de municípios em situação de precária qualidade de vida. Além da falta de água vivida permanentemente nas periferias e outros lugares pobres da cidade, a seca trouxe dificuldades de acesso à água potável até para as populações ribeirinhas, que assistem impotentes o desaparecimento dos peixes e da alimentação em geral.

O caldo engrossa ainda mais pela falta de esgotamento sanitário em todas as áreas da cidade, trazendo à tona dificuldades históricas. Além do castigo da seca, que faz o rio diminuir (ou desaparecer) diante dos olhos do manauara, grandes quantidades de esgotos drenadas para os igarapés e rios da cidade radicalizam a degradação ambiental. A concessionária de água e esgoto – Águas de Manaus – tenta fugir da responsabilidade, sem obter êxito, pois já são mais de duas décadas de privatização e omissão diante do caos.

Moradores das proximidades do Igarapé do Gigante são unânimes em denunciar, por exemplo, a responsabilidade da empresa na poluição do rio Tarumã-Açu.  Até a Secretaria do Meio Ambiente do Estado já reconhece a culpa da empresa pela situação em que se encontra o rio. O poder concedente (a prefeitura municipal), no entanto, é omisso. Conivente, a Agência Reguladora – Ageman – não realiza a sua obrigação de fiscalizar e punir a infratora.

Manaus parece mesmo uma cidade sem lei. Acobertados, os grandes criminosos não temem a punição. Bem articulados, garantem a impunidade. Do outro lado, a população sedenta é sufocada e mergulhada no esgoto.


* Sandoval Alves Rocha é doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2019), mestre em Ciências Sociais pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (2011), graduado em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (2007) e graduado em Filosofia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (2002). Coordena o projeto de pesquisa “Cidadania Hídrica na Amazônia: oportunidades e desafios do acesso á água potável e ao esgotamento sanitário” (UNISINOS).

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