ONDAS – Observatório dos Direitos à Água e ao Saneamento

ONDAS - Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento

Manifesto contra a privatização do saneamento em Minas Gerais

Atualizado em 17/8/21:
O ONDAS entregou o Manifesto contra a privatização do saneamento em MG ao presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, deputado Agostinho Patrus, em 17/8/21. A entrega foi feita pelo Coordenador de Cooperação Internacional do ONDAS, professor Léo Heller, pelos associados Alex Aguiar e Fábio Bianchetti, e por representantes de algumas das entidades que endossaram o Manifesto: deputada Ana Paula Siqueira (REDE); deputado Marquinhos Lemos (PT); Esmeraldo Pereira (ASSEMAE); Flávia Mourão (Abes MG); Murilo Valadares (SENGE MG).
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MANIFESTO CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DO SANEAMENTO EM MINAS GERAIS

O Governo de Minas, aproveitando-se de obrigação derivada da Lei 14.026/2020, elaborou estratégia para a maciça privatização dos serviços de saneamento no Estado, que inclui Projeto de Lei definindo a regionalização dos serviços.

No âmbito dos serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário, a proposta do governo divide o estado em 22 Unidades Regionais (URAEs), abrangendo todos os 853 municípios, tanto aqueles atendidos pelas empresas do estado – Copasa e Copanor -, como aqueles atendidos por serviços municipais – administração direta pelas prefeituras, por intermédio de empresas públicas ou autarquias municipais (SAAEs, DMAEs e afins) -, e ainda aqueles atendidos por concessionárias privadas. Também no âmbito da gestão dos resíduos sólidos, a divisão do estado em 34 Unidades Regionais (URGSs) alcançou todos os 853 municípios.

Essa iniciativa é a expressão ideológica do Governo Zema, no que se refere à sua visão sobre um serviço essencial como o saneamento básico, ao papel do estado, e sua forma de governar:

  • o PL foi construído ao longo de quase um ano sem participação de prefeitos ou vereadores dos municípios mineiros, que somam quase 10.000 representantes eleitos pela população do estado;
  • o processo desconsiderou a possibilidade de construção de uma proposta com apoio das organizações da sociedade civil que atuam no setor, como as associações profissionais ligadas à área, os comitês de bacias hidrográficas, as instituições de ensino e pesquisa, os movimentos sociais;
  • mais grave, excluiu o envolvimento dos(as) 77 deputados estaduais na construção da proposta, sendo que a eles(as) caberá a responsabilidade de, em curto espaço de tempo, apreciar e deliberar sobre o Projeto de Lei, com consequências sobre toda a população do estado.

O projeto apresenta diversas imperfeições e equívocos técnicos e jurídicos, incorrendo, inclusive, em inconstitucionalidades; traz, portanto, riscos reais de prejuízos a toda a população do estado, podendo ser destacados:

  • visão clara de interesse em privatizar a prestação dos serviços de saneamento, deixando de se orientar na preservação da atuação dos inúmeros prestadores públicos municipais, bem como das empresas estaduais – Copasa e Copanor;
  • desconsideração de especificidades técnicas, econômicas e culturais necessárias para incluir e integrar à universalização pretendida as comunidades rurais, os povos tradicionais, as pequenas localidades, as comunidades ribeirinhas, e as populações em situação de assentamentos informais, entre outros grupos populacionais vulneráveis.
  • comprometimento de renda das pessoas completamente incompatível com a preservação da vida das parcelas da população em situação de vulnerabilidade econômica, particularmente aquelas classificadas como Extrema Pobreza, Pobreza e Baixa Renda, e que somam cerca de 6 milhões de pessoas no estado – aproximadamente 1/3 da população –, mostrando que a universalização propalada não será, de fato, para todos;
  • tendência de incremento das tarifas a serem cobradas pelos serviços, assegurando a remuneração dos prestadores privados, mas sem proteger o direito humano fundamental de todos e todas, sem exceção, terem acesso aos serviços;
  • completo desprezo pelo controle social e tentativa de imposição da regulação dos serviços pela agência reguladora do estado (ARSAE-MG), de modo a assegurar o estabelecimento dos incrementos tarifários requeridos para remunerar os prestadores privados.

A proposta de Zema de “privatização pela regionalização”, ou de “regionalização para privatização” despreza os enormes riscos de violação dos direitos humanos à água e ao esgotamento sanitário, direitos este aos quais o Brasil está legalmente vinculado. Isto, a despeito de diversas advertências internacionais e de diversas evidências de que privatizar esse serviço essencial exclui populações em vulnerabilidade e, no longo prazo, resulta na deterioração da qualidade dos serviços. Com essa iniciativa, o governo submete toda a população mineira a uma aventura institucional, de difícil reversão nas próximas décadas, com base em um mero capricho ideológico. A orientação ultraliberal do governo do estado produzirá, como em várias outras experiências de mesmo matiz que temos testemunhado nos planos nacional e estadual, exclusão, quebra de compromissos, retirada de direitos, desemprego e maximização de lucros dos agentes privados com o uso de recursos públicos.

Por essas razões, as entidades que subscrevem esse Manifesto se dirigem aos executivos municipais e estadual, aos vereadores, aos deputados estaduais e à sociedade com o propósito de alertar sobre os riscos aos direitos humanos representados por essa proposta do Governo Zema. Tal iniciativa, se bem-sucedida, colocará, por décadas, a prestação dos serviços de saneamento refém da obsessão por lucros de empresas privadas operando em um mercado monopolizado, podendo vir a inviabilizar a melhoria da prestação dos serviços e sua universalização a todos e todas, sem exceção ou distinção de quaisquer ordens.

Subscrevem esse manifesto:

  1. Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento – ONDAS
  2. Agência Reguladora Intermunicipal de Saneamento Básico de Minas Gerais – ARISB MG
  3. Arquidiocese de Belo Horizonte – Região Episcopal Nossa Senhora do Rosário – RESNER
  4. Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental-Seção Minas Gerais – ABES/MG
  5. Associação Brasileira de Saúde Coletiva – ABRASCO
  6. Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Materiais Recicláveis de Belo Horizonte – ASMARE
  7. Associação dos Servidores do IBAMA e do ICMBIO em Minas Gerais – ASIBAMA MG
  8. Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social – AEDAS
  9. Associação Nacional de Catadores e Catadoras – ANCAT
  10. Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento – ASSEMAE/REGIONAL MG
  11. Associação Rede Unida
  12. Central dos Movimentos Populares – CMP/MG
  13. Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB
  14. Central Única dos Trabalhadores – CUT MG
  15. Centro Acadêmico de Engenharia Ambiental da UFOP
  16. Centro Acadêmico de Engenharia Ambiental da UFV
  17. Centro Acadêmico Zilda Xavier – Geografia/UFV
  18. Centro Brasileiro de Estudos de Saúde – CEBES
  19. Coletivo Alvorada BH
  20. Confederação Nacional das Entidades Negras – CONEN
  21. Cooperativa de Reciclagem dos Catadores da Rede de Economia Solidária – Cataunidos
  22. Cooperativa dos Trabalhadores e Grupos Produtivos da Região Leste – COOPERSOL – LESTE
  23. Cooperativa Solidária dos Recicladores e Grupos Produtivos do Barreiro e Região – COOPERSOLI-BARREIRO
  24. Diretório Central dos Estudantes – DCE/UFV
  25. Federação Interestadual de Sindicatos de Engenharia – FISENGE
  26. Fórum Mineiro de Comitês de Bacias Hidrográficas – FMCBH
  27. Frente Brasil Popular
  28. Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais da UFMG – GESTA
  29. GT Água e Saneamento – FIOCRUZ
  30. Instituto DH de Direitos Humanos
  31. Instituto Guaicuy
  32. Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável – INSEA
  33. Instituto SUSTENTAR Interdisciplinar de Pesquisas em Sustentabilidade
  34. Laboratório Fluxus da UNICAMP – Projeto Ciclos/ORIS Esmeraldas MG
  35. Levante Popular da Juventude
  36. Marcha Mundial das Mulheres
  37. Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB
  38. Movimento dos Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos – MTD
  39. Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis – MNCR
  40. Movimento pela Soberania Popular na Mineração – MAM
  41. Movimento Rola Moça, Resiste
  42. Núcleo Alternativas em Economia Solidária da UFMG
  43. Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens – NACAB
  44. Observatório das Metrópoles – Núcleo RMBH
  45. ONG EcopPaz – Ecologia pela Paz – Entre Rio de Minas/MG
  46. Organização pelo Direito Humano à Alimentação e à Nutrição Adequadas – FIAN Brasil
  47. Partido dos Trabalhadores – PT/MG
  48. Partido REDE Sustentabilidade MG
  49. Partido Socialismo e Liberdade – PSOL MG
  50. Projeto Manuelzão/UFMG
  51. Rede de Mulheres no Emprego Informal: Globalizando e Organizando – WIEGO
  52. Seção Sindical dos(das) Docentes do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais – SINDCEFET-MG
  53. Sindicato dos Engenheiros de Minas Gerais – SENGE MG
  54. Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais – SINPRO
  55. Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgotos do Estado de Minas Gerais – SINDÁGUA MG
  56. Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais – SINDIELETRO
  57. Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais – SIND-UTE/MG
  58. Sociedade Brasileira de Bioética – SBB
  59. União Colegial de Minas Gerais – UCMG
  60. União da Juventude Socialista – UJS
  61. União Estadual dos Estudantes – UEE
    62. Grupo da TerraADESÃO AO MANIFESTO
    Àquelas entidades que desejarem também subscrever esse Manifesto, pedimos que encaminhem mensagem, formalizando a solicitação, para o endereço de e-mail: [email protected]

    Leia também:

    A proposta de Zema para a regionalização do Saneamento em MG: qual futuro nos espera?

2 comentários em “Manifesto contra a privatização do saneamento em Minas Gerais”

  1. Pierre-Louis Brisset

    Contra a privatização pura e simples do liberalismo que cria os retrocessos atuais, e pra que as empresas de interresse básico da população estejam do tipo de economia mista, mais justa e a gestão mais complicada como muitas vezes numa real democracia!

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