Editor da seção Resenha, Amauri Pollachi – Conselho de Orientação do ONDAS
PRESENÇA PROLONGADA DE DNA VIRAL SARS-COV-2 EM AMOSTRAS FECAIS
WU, Yongjian; GUO, Cheng; TANG, Lantian; HONG, Zhongsi; ZHOU, Jianhui ; DONG, Xin; et al. Prolongued presence of SARS-CoV-2 viral RNA in faecal samples. The Lancet Journal. 19 de março de 2020, Correspondance. Disponível em: https://doi.org/10.1016/S2468-1253(20)30083-2
O texto é uma notícia cientifica que traz informações sobre um estudo com pacientes internados no Hospital da Universidade de Sun Yat-sen, em Zhuhai, na China, durante o período de internação dos indivíduos portadores do SARS-CoV-2, comprovados por testes de amostras do trato respiratório.
Entre 16 de janeiro e 15 de março de 2020 foram cadastrados 98 pacientes, dos quais 74 participaram da pesquisa. Os indivíduos tiveram amostras do sistema respiratório e das fezes coletadas a cada 1 ou 2 dias, dependendo da disponibilidade de fezes, até que se obtivessem 2 resultados negativos seguidos. Obteve-se resultado negativo para SARS-CoV-2 nas amostras de fezes de 45% dos 74 pacientes avaliados, mesmo enquanto davam positivos os exames para amostras do trato respiratório, por 15 dias, desde iniciados os sintomas.
Para 55% dos 74 pacientes com amostra fecal positiva para SARS-CoV-2, os exames do trato respiratório permaneceram positivos para o vírus por uma média de 16 dias e exames fecais permaneceram positivos por uma média de 27 dias, após os primeiros sintomas terem aparecido. Ou seja, o vírus permaneceu nas fezes em média 11 dias a mais que no trato respiratório dos pacientes. Houve paciente que apresentou persistência dos vírus nas fezes por um total de 47 dias após os primeiros sintomas. Isso indica que o vírus SARS-CoV-2, causador da doença COVID-19, continua se replicando no sistema gastrointestinal do paciente e que, portanto, pode haver transmissão oral-fecal, mesmo após o sistema respiratório não demonstrar mais sinais de infecção.
O estudo sugere que o vírus permanece nas fezes dos pacientes por até 5 semanas após o teste ter sido negativo para SARS-CoV-2 nas amostras do sistema respiratório. Porém, as evidências para a transmissão do SARS-CoV-2 via oral-fecal e da persistência do vírus no ambiente ainda são limitadas, como já havia sido confirmado nos casos estudados em anos anteriores para os vírus corona do tipo MERS-Cov e SARS-CoV.
Determinar se um vírus está ativo através da detecção de ácido nucleico é difícil, assim, é necessário realizar exames de fezes após a melhora da condição respiratória do paciente, para definir o potencial de transmissão daquele indivíduo. Sabe-se que existe transmissão por portadores assintomáticos do vírus.
Apesar dessas evidências, nenhum caso de contaminação de SARS-CoV-2 via oral-fecal foi registrada, pois a pesquisa foi realizada em pacientes internados, o que leva a crer que a infecção por essa via é improvável em instalações de quarentena no hospital ou sob isolamento controlado. Porém, o potencial contágio oral-fecal pode ser um risco aumentado em instalações residenciais, como albergues, dormitórios, trens, ônibus e navios de cruzeiro.
A transmissão por via respiratória continua sendo a via primária de transmissão para o SARS-CoV-2 e as evidências ainda são insuficientes para desenvolver medidas práticas para o grupo de pacientes com resultados negativos para exames do trato respiratório, porém positivos para exames de fezes. Serão necessárias novas pesquisas sobre viabilidade e infecciosidade do SARS-CoV-2 nas fezes.
Por: Estela Macedo Alves[1]
[1]Pesquisadora, pós-doutoranda no Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE USP). Arquiteta e urbanista, Doutora em Ciência pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do IEE USP, SP. Contato: [email protected].
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