ONDAS – Observatório dos Direitos à Água e ao Saneamento

ONDAS – Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento

Privatização em colapso

Inglaterra

PRIVATIZAÇÃO EM COLAPSO

autor: Marcos Montenegro *

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A maior das companhias privadas criadas em 1989, a Thames Water sucedeu a Thames Water Authority, prestadora pública com serviços de água e esgoto.

Uma conta muito indigesta está sendo apresentada aos britânicos mais de 30 anos depois da privatização dos serviços da Inglaterra e do País de Gales, não por meio de concessões, mas da venda do direito de prestar os serviços e dos próprios ativos.

A Thames Water atende 15 milhões de pessoas moradoras de Londres e áreas circunvizinhas. A empresa vive uma profunda crise, tão grave que a nacionalização (re-estatização) temporária é uma das alternativas estudadas pelo governo britânico.

Um dos principais aspectos da crise é um endividamento brutal, ilustrado no primeiro dos gráficos a seguir, mostrando que a dívida líquida da Thames chegou à astronômica quantia de £14,3 bilhões, o equivalente a R$ 90,7 bilhões, e correspondendo à alavancagem de 80%. Para efeito de comparação, a dívida líquida da Sabesp em 31/12/2020 era de R$ 15,4 bilhões, com alavancagem de 36%[1].

Quando entregue aos donos privados a empresa não carregou nenhuma dívida, mas mesmo com todo este endividamento, não conseguiu realizar os investimentos necessários para assegurar o abastecimento de água seguro e controlar a poluição das águas superficiais por esgotos. As perdas vem crescendo nos últimos cinco anos e as descargas de esgoto não tratado de sistemas de esgoto unitário envelhecidos chegaram a níveis inaceitáveis, oq eu faz com que a empresa venha recebendo multas frequentes da Agência Ambiental.

Crescimento anual da dívida líquida da Thames Water

Pagamentos de dividendos pela Thames Water em 32 anos

A empresa priorizou o pagamento de dividendos aos seus acionistas (ver o segundo gráfico) deixando em segundo plano os investimentos para renovar os ativos em operação e aumentar a resiliência do abastecimento de água. Em 32 anos a empresa pagou £7,2 bilhões em dividendos.

Na atual conjuntura, com a elevação dos preços da energia, a crescente inflação e a elevação dos juros a evidenciou-se uma situação praticamente insustentável.

Na verdade, além da Thames Water, dois outros dos prestadores privados estão também em crise aberta: a Southern Water e a South East Water. David Hall, professor e pesquisador dos serviços públicos após a privatização, está propondo propõe que o governo britânico adote uma administração especial para as três empresas de água falidas e transfira seus serviços para propriedade pública sob supervisão de conselhos regionais.

Leia também artigo de Mathew Lawrence publicado pelo Guardian e traduzido para o português por Marcos Montenegro, Coordenador de Comunicação do ONDAS:

A situação miserável de Thames Water é um dos melhores argumentos que temos para defender a propriedade pública


[1] Ver item 2.1 do Formulário de Referencia, disponível em: https://api.mziq.com/mzfilemanager/v2/d/9e47ee51-f833-4a23-af98-2bac9e54e0b3/e7e6e85a-5773-689e-232e-d0e414453c5c?origin=1

*Marcos Montenegro é engenheiro, diretor nacional da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental e Coordenador de Comunicação do Ondas.

1 comentário em “Privatização em colapso”

  1. PEDRO GILBERTO RODRIGUES DA MOTA

    A 30 anos atras, era dado como uma empresa inovadora e os dirigentes do governo nesta e nas demais épocas se encantavam com a privatização. Hoje, exemplo das demais companhias de água no mundo, em especial nos países onde o crescimento fica na faixa de 0,0x% a.a não tem como ganhar montantes que ganharam no passado. Muitas companhias fecharam as portas, outras foram vendidas a outros grupos e a Sabesp sobreviveu e cresceu com organização, experiência e sabedoria. Sinto entristecido que um governante tenha mente e ouvidos fechados para o diálogo. Não há razão em termos um gestor público fazer a venda de uma empresa que é modelo, não somente no Brasil, mas no mundo, que prestou serviços fora do país por solicitação dos estados e dos países por ser uma empresa séria e com resultados satisfatórios não somente na parte técnica, mas sim na econômica. Agora estamos falando de um cidadão que não queria entrar na política, mas entrou. Tem conhecimento técnico, pois é um engenheiro, mas vejo que seu objetivo não é a povo paulista, mas sim o prazer do poder, isto é muito ruim para um cidadão que veio de outro estado e aqui embarca para não ouvir os paulistas, muito menos analisar os resultados do mundo e o que esta ocorrendo. Se isto ocorrer teremos em um espaço de tempo resultados insatisfatórios para o estado e os economistas de plantão, assim como este governo não estará respondendo mais pelos seus atos. Fico Muito preocupado, porque admirava a sua inteligência durante a campanha política.

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