ONDAS – Observatório dos Direitos à Água e ao Saneamento

ONDAS – Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento

Zema e a venda da Copasa(MG) – artigo

*Alex M. S. Aguiar

Zema deu início ao processo de privatização da Copasa. Uma empresa que alavanca todos os recursos para seu custeio e investimentos de sua própria operação, sem ao menos um centavo do governo estadual. Pelo contrário: o estado, como acionista majoritário, recebe mais de 50% da parcela dos lucros da Copasa que, por força de lei, é distribuída aos acionistas. Uma empresa com lucro anual líquido sem depreciação superior a R$1 bilhão, mas cujo valor de venda não paga dois meses da folha do estado.

Zema, ou um de seus secretários, disse que a venda da Copasa – e da Cemig e demais estatais – é a única saída para tirar Minas do buraco. Infelizmente, essa não é a verdadeira razão, haja vista que ainda em sua campanha para o cargo que foi eleito ele já defendia a venda das estatais mineiras. A verdade é que Zema quer vender a Copasa porque compartilha das ideias do Ministro Paulo Guedes, o dono do planejamento do governo federal, e cuja fala em vídeo recentemente divulgado pelo STF não deixa dúvidas: quer entregar o saneamento ao setor privado, e fazer dinheiro através das outorgas que serão cobradas, e através da remuneração de empréstimos aos compradores.

Essa é a forma de pensar de Zema. Chegou a afirmar, sem nenhuma base consistente de informação, que as estatais não passavam de cabides de emprego, e que a privatização as tornaria empresas eficientes. Pois bem, os dados mais recentes publicados pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS – indicam que empresas privadas do setor e Copasa têm exatamente a mesma média de 1,6 empregados/1.000 ligações, provando que o governador não sabia o que falava. Quanto à eficiência, há de se reconhecer que a Copasa tem muitas falhas, tem muitos problemas, mas também é bem aceita pelos serviços que presta em inúmeras cidades. Seria mais eficiente se fosse privatizada? Ora, Zema é da iniciativa privada, o presidente da Copasa veio da iniciativa privada. O que falta para torná-la tão eficiente quanto os privados? Competência?

Na verdade, Zema não sabe é que o acesso à água potável é um direito humano fundamental. Não sabe que, em tempos de pandemia, chega a ser desumano pensar em vender a empresa através da qual o estado pode atender aos mais vulneráveis, àqueles que não têm condições financeiras para contar com água de qualidade, com regularidade, permitindo a eles, ao menos, a oportunidade de se protegerem do contágio da COVID-19. Zema desconhece o que é o papel de um estado.

Esperamos que esse processo seja barrado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Que os representantes dos mais de 20 milhões de mineiros ensinem a esse nosso atual governador que o que é esperado da administração de um estado vai muito além do que faz a administração de um posto de gasolina. Ou de vários, de muitos deles. Não importa quantos.

*Engenheiro Civil e Sanitarista. M.Sc. Saneamento

Artigo publicado originalmente no Jornal GGN

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