ONDAS – Observatório dos Direitos à Água e ao Saneamento

ONDAS – Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento

Comenda 2 de Julho será entregue a Luiz Moraes: reconhecimento ao trabalho de ensino e pesquisa em saneamento

Atualizada em 19/5/22 – no final da página o vídeo com a cerimônia de entrega e o discurso do professor Luiz Roberto Santos Moraes

A Comenda 2 de Julho, a maior honraria concedida pelo parlamento baiano, será entregue a Luiz Roberto Santos Moraes, professor aposentado da Universidade Federal da Bahia (UFBA), sócio-fundador e Conselheiro de Orientação do ONDAS (período de 2019/2022), no dia 19 de maio, às 15 horas, no Plenário da Assembleia Legislativa da Bahia.

Trata-se de um importante reconhecimento ao trabalho e o empenho de Luiz Moraes ao longo de sua trajetória em nome do desenvolvimento da ciência, em especial do saneamento básico, no estado da Bahia e no país.

O deputado Marcelino Gato (PT-BA) foi o propositor da concessão da Comenda 2 de Jullho e enfatizou: “Luiz Moraes dedicou a vida ao ensino e pesquisa sobre o saneamento básico no país. Seus estudos embasam projetos e políticas públicas para resolver essa questão antiga, mas tão urgente para promoção da saúde e dignidade humana. Para nós, é uma honra conceder a Comenda 2 de Julho a este profissional incansável nas trincheiras de luta pela democracia e um país mais justo mais todos e todas”, disse Marcelino Galo.

A coordenação-geral do ONDAS parabeniza Luiz Moraes pelo recebimento do prêmio, que traz o reconhecimento de sua dedicação e empenho por anos de trabalho em defesa dos direitos humanos à água e ao saneamento.

Professor Luiz Roberto Moraes recebendo o prêmio durante cerimônia de entrega na Assembleia Legislativa da Bahia.

Breve currículo de Luiz Roberto Santos Moraes:
Engenheiro Civil pela Universidade Federal da Bahia – UFBA; Sanitarista pela Universidade de São Paulo – USP e de Segurança do Trabalho pela mesma universidade; MSc em Engenharia Sanitária (DUT/Holanda), PhD em Saúde Ambiental (UL/Inglaterra), fez estágios pós-doutoral na UM/PT, UB/ES e IPVC/PT; é Professor Titular em Saneamento (aposentado) e Participante Especial (voluntário) da Universidade Federal da Bahia; membro do Conselho Consultivo da ENSP/Fiocruz, Editor da Revista GESTA; um dos fundadores e conselheiro do Grupo Ambientalista da Bahia; foi Engenheiro da Empresa Baiana de Águas e Saneamento – Embasa e Superintendente de Operações da Região Metropolita de Salvador; foi Vice-Presidente e Conselheiro da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES/BA e Conselheiro Nacional da Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento – ASSEMAE. Sócio-fundador do ONDAS e ex-Conselheiro de Orientação (2019-2022).

Assista a cerimônia:

Discurso proferido por Luiz Roberto Santos Moraes ao receber a Comenda 2 de Julho outorgada pela ALBA, em 19/5/2022

Exmo. Sr. Dep. Marcelino Galo Lula, Coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista da Bahia, deputado do PT nesta casa e proponente da honraria, em nome de quem saúdo os excelentíssimos deputados e deputadas, agradecendo a todos/todas a aprovação desta insígnia a mim hoje entregue, demais autoridades e amigos presentes na mesa, membros queridos da minha família (companheira de vida, filhos, irmãos/irmã, cunhados/cunhadas, sogro, sobrinhos/sobrinhas, tios/tias, primos/primas), amigos/amigas, colegas e ex-alunos/ex-alunas aqui presentes, meus senhores e minhas senhoras:

Hoje é o dia/mês do passamento do guerreiro e querido amigo-irmão Dep. Paulo Jackson Vilasboas, que foi para uma outra dimensão em 19 de maio de 2000; são 22 anos que deixamos de contar com a sua companhia. Obrigatoriamente, ele tem que ser lembrado pela pessoa que foi e por sua grandiosa atuação na ALBA e na sociedade em defesa dos interesses das camadas populares, do meio ambiente e do saneamento básico. Olho para a Galeria Dep. Paulo Jackson Vilasboas, olho para a cadeira, o lugar nesse Plenário onde ele se sentava, esse Púlpito que ele tanto ocupou, a Fundação Paulo Jackson, com a finalidade de ações culturais e comunicação social voltadas para divulgação das atividades dessa ALBA, a Associação Movimento Paulo Jackson – Ética, Justiça, Cidadania (com a presença forte e marcante de sua companheira Suzana e seus filhos Daniel e André Vilasboas),  são muitas as lembranças. Mais à frente irei me referir a ele, porém agora agradeceria se todos/todas/todes ficassem de pé e fizéssemos um minuto de silêncio em sua homenagem.  Paulo Jackson, presente!

Na condição de cidadão baiano, professor titular em Saneamento aposentado da UFBA e militante em defesa da democracia, do meio ambiente e do saneamento público e de qualidade, recebo comovido essa comenda, que gostaria de compartilhar com todos/todas/todes que lutam em defesa da água como um bem comum, como um bem essencial à vida e como um direito humano essencial. Recebo essa insígnia como mais um testemunho de todos/todas/todes que lutaram em nosso país, a Comenda de nome 2 de Julho, maior feito histórico na Bahia, quando foi realizada a verdadeira Independência do Brasil, outorgada por essa Assembleia Legislativa, que considero o mais importante dos poderes democráticos.

Certamente, os 43 anos como educador, pesquisador e extensionista na UFBA, e 48 anos do meu caminhar e militância nas áreas de saneamento básico e ambiental, Engenharia Sanitária e Ambiental, saúde ambiental, educação, ciência e tecnologia, democracia e cidadania me trouxeram muitos desafios e aprendizados que representam um esforço de dar uma contribuição à sociedade. Nessa trajetória, irei compartilhar com vocês, a seguir, algumas passagens que participei como trabalhador intelectual e cidadão, nesses 40 anos de convivência com esta Casa Legislativa, esta Casa do Povo, trajetória esta que, em última instância, representou o desejo de construir, juntamente com os companheiros e companheiras de luta, um país mais justo e democrático.

  • Destaco aqui o esforço de contribuir, de forma voluntária, incontáveis vezes desde 1983, com as Comissões de Saúde e Saneamento e de Proteção ao Meio Ambiente, além de outras, participando de sessões, audiências públicas, seminários e outros eventos realizados nesta ALBA, bem como na elaboração de documentos (sobre Pedra do Cavalo; poluição de diversos rios da Bahia, incluindo o Rio São Francisco; agrotóxicos; Programa Bahia Azul; Sistema de Disposição Oceânica do Jaguaribe – a querida companheira Bete Wagner deve lembrar, pois estivemos juntos nessa luta e em outras; Política Nacional e Estadual de Saneamento Básico, dentre outros temas).
  •  Quanto à Pedra do Cavalo, vale lembrar a parceria com o jornalista, professor e acadêmico Emiliano José para a elaboração de discurso circunstanciado, denunciando a sua não necessidade, a extemporaneidade e o alto custo da obra da barragem e do sistema adutor para Salvador, a ser proferido na ALBA pelo então Dep. Estadual Galdino Leite (PMDB), e na Câmara dos Deputados pelo então Dep. Federal Marcelo Cordeiro (PMDB), que “desistiram” na última hora de fazê-lo. Posteriormente, o jornalista Emiliano José refez o discurso e o publicou como artigo no Caderno do CEAS, n.86, em 1983. Essa obra representou um custo de USD 1,2 bilhão a serem pagos por nós, nossos filhos e nossos netos e bisnetos, ou seja, por muitas gerações!
  •  Em face da luta contra essa Obra, recebi o apoio público de deputados/deputadas da oposição desta Casa, quando fui demitido da Caraíba Metais S.A., em 1983, na época empresa sob controle do então Banco Nacional de Desenvolvimento Ecônomico, onde exercia o cargo de gerente de Tecnologia. Essa demissão, cabe lembrar, foi uma exigência do então governador Antônio Carlos Magalhães, devido às denúncias que realizei ao Banco Mundial, ao Banco Interamericano de Desenvolvimento e ao Banco Nacional de Habitação, com farta documentação técnica, sobre a desnecessária construção de Pedra do Cavalo.
  •  Quanto ao São Francisco, e suas águas, sempre fui chamado a defendê-las junto com meus companheiros e companheiras, como a querida Promotora de Justiça Luciana Khoury e outros/outras aqui presentes. Em 1984, uma ação militante e técnica permitiu identificar a fonte que causou a poluição do Rio São Francisco; poluição esta que gerou uma elevada mortandade de peixes e suspensão do abastecimento de água a diversas cidades da região do trecho médio do Rio (região de Juazeiro), gerando grande impacto socioambiental. Dez órgãos federais e estaduais atuando na região “não conseguiam identificar” o problema, enquanto nós, na primeira inspeção que fizemos (uma comitiva de 6 deputados estaduais e 5 técnicos viajando em micro-ônibus providenciado pela ALBA para a Comissão de Proteção ao Meio Ambiente, presidida à época pelo então bravo e competente Dep. Luiz Nova, do PCdoB) à Agrovale (indústria produtora de açucar e álcool da região), descobrimos o rompimento de uma barragem/dique que formava uma bacia de rejeitos, cheia de vinhoto. Esse evento causou o desastre e degradação ambiental, fato denunciado por nós em Audiência Pública na Câmara Municipal de Juazeiro, no final da tarde do mesmo dia (o querido ambientalista e Eng. Renato Cunha que estava presente pode confirmar) e publicado na manchete e em matéria do jornal A TARDE na edição do dia seguinte, obrigou o órgão de meio ambiente da Bahia, o então Centro de Recursos Ambientais (CRA), a elaborar relatório circunstanciado, inclusive utilizando imagens de satélite disponibilizadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O relatório técnico-científico que elaboramos para a CPMA/ALBA, junto com aquele efetuado pelo CRA, levou o governo do Estado a dar entrada de ação na Justiça contra a Agrovale. Depois da Justiça ter decidido arquivar o processo por, pasmem, falta de provas, descobrimos que o ex-vice-presidente da República Aureliano Chaves havia sido presidente do Conselho de Administração da referida empresa! Esse é o nosso Brasil, essa é a nossa Justiça!
  •  A parceria profícua como o então Dep. Jorge Hage Sobrinho (PMDB) não posso deixar de comentar, mesmo que brevemente. Em 1985, contribuí, a convite do Deputado, em uma Comissão desta Casa, instituída para analisar o rompimento da barragem de Santa Helena no Rio Jacuípe (1985), que pretendia instalar uma CPI, junto com outros parlamentares, sobre a questão, o que não veio a acontecer. Também apenas alguns poucos aspectos indicados pela Comissão foram considerados.
  •  Durante o processo Constituinte da Bahia de 1989, todos nós estávamos impregnados de utopia em meio ao cenário de redemocratização do País. Esse momento foi fundamental para a estruturação e concepção de políticas públicas. Não poderia me ausentar desse importante momento, contribuíndo para os capítulos de Saneamento Básico, Meio Ambiente, Saúde, Educação e Ciência e Tecnologia (contribuições coletivas e individuais em Audiências Públicas, Seminários, textos elaborados, propostas diversas). Ressalte-se aqui a discussão com a Comissão de Relatoria, por sinalização do então Dep. Constituinte Emiliano José, para não permitir excluir o que veio a se tornar o Capítulo IX – Do Saneamento Básico (artigos 227 a 230), fruto de debates das entidades da área, com destaque para a Abes-Bahia, aqui representada pelo seu atual presidente Prof. Sílvio Orrico. O art. 227 define o entendimento de saneamento básico (pioneiro em Carta Magna no Brasil) e estabelece o mesmo como direito de todos. O art. 228 estabelece a competência do Estado para instituir diretrizes para o saneamento básico complementares à União. Já o art 229 cria o Conselho Estadual de Saneamento Básico, deliberativo e tripartite, e estabelece a necessidade de formulação de política e elaboração de plano estadual de saneamento básico. E, finalmente, o art. 230 define critérios para o estabelecimento, pelos órgãos públicos, de cobrança de taxas e tarifas pela prestação dos serviços públicos de saneamento básico.
  •  Em 1989, mais uma vez essa Casa atravessou minha trajetória ao apoiar a luta que travei para receber recursos para a execução de pesquisa na UFBA. O encaminhamento de ofício ao então Reitor da UFBA José Rogério da Costa Vargens, por parte de deputados de todos os partidos desta ALBA, solicitando a assinatura de convênio entre a UFBA e o International Development Research Centre (IDRC) do Canadá, viabilizou o financiamento de pesquisa sobre saneamento e saúde em 9 assentamentos humanos da periferia de Salvador, que seria objeto de minha tese de doutoramento na Universidade de Londres. Essa ação dos deputados foi fundamental para que o referido reitor revisse a sua decisão de não assinar o citado convênio em retaliação à minha atuação miltante contra a sua indicação para a Reitoria da UFBA. O Prof. José Rogério da Costa Vargens foi o quinto colocado, tendo obtido apenas 3% dos votos na eleição/consulta realizada junto à comunidade da UFBA, mas indicado pelo presidente da República para assumir o cargo de reitor por acordo com o Centrão da época. Inclusive, todos os manifestantes foram filmados pela Polícia Federal por termos ocupado e dormido no Palácio da Reitoria como forma de protesto. Por esse e outros atos de pressão, o reitor acabou assinando o convênio, o que oportunizou o desenvolvimento da pesquisa.
  • Em 1992, pude compartilhar com muitos companheiros e companheiras e com deputados/deputadas da ALBA a luta contra a comercialização e o uso de agrotóxicos no estado da Bahia e contribuir na elaboração de projeto de lei para regular a atividade. Nesse período, realizei inspeção de campo em fazendas e localidades na região da lavoura de café, no Sudoeste da Bahia, junto a uma comitiva de deputados/deputadas para verificar in loco os impactos negativos causados no ambiente e na saúde e vida de seres humanos. As cenas que vimos e os relatos que ouvimos nos deixou indignados e, certamente, nos marcaram para o resto da vida!
  •  Em 1993, com o querido Eng. Eduardo Araújo, elaboramos a minuta de projeto de lei de Política Estadual de Saneamento Básico, visando a regulamentação do art. 229 da Constituição do Estado da Bahia, para o mandato do amigo-irmão Dep. Paulo Jackson, que deu entrada no Projeto de Lei n. 10.105/1993, na tentativa de pressionar o Governo do Estado a apresentar projeto de lei sobre a matéria. No entanto, considerou-se inapropriado e foi solicitado o seu arquivamento após a apreciação e despacho da Procuradoria Jurídica da ALBA, pois projeto de lei sobre essa matéria teria que ser apresentado apenas pelo Poder Executivo.
  • Em 1999, já sob forte influência do neoliberalismo, foi o momento de defender a Embasa como pública. Elaborei documento denunciando as alterações dos artigos 4º, 25, 59, 227, 228, 230 e 238 da Constituição do Estado da Bahia, incluídos na Proposta de Emenda à Constituição-PEC que gerou a Emenda Constitucional-EC  07/1999, visando a privatização da Embasa, e que alterou 1/3 dos dispositivos da Constituição Estadual. Posteriormente, o Partido dos Trabalhadores ajuizou no Supremo Tribunal Federal-STF, ainda em 1999, a Ação Direta de Inconstitucionalidade-ADI 2.077, sendo apreciada e julgada parcialmente procedente, declarando a inconstitucionalidade dos arts. 59, inciso V, e 228, caput e §1º, e sua redação dada pela Emenda Constitucional 07/1999 apenas em 2013 e 2019, com acordãos publicados em outubro de 2014 e em setembro de 2019.
  •  No âmbito da luta contra a privatização da Embasa, vale lembrar da histórica Audiência Pública promovida pelo Governo do Estado da Bahia sobre a modelagem de venda da Embasa, no auditório principal da Fundação Luiz Eduardo Magalhães, quando era sediada aqui no Centro Administrativo da Bahia. Os grandes interesses relacionados à venda da Embasa levou a uma forte disputa,  plenamente representada pelos eventos que ocorreram naquela Audiência que virou um palco de “guerra” entre policiais à paisana (os denominados P2) e nós presentes à Audiência, membros do Sindae (o companheiro Pedro Romildo aqui presente certamente nunca esquecerá esse dia, pois foi jogado pelos P2 do alto do tablado onde estava a mesa diretora ao piso do auditório), deputados/deputadas progressistas e funcionários públicos de diversas secretarias que foram obrigados por suas chefias a comparecerem. A Audiência acabou não acontecendo na prática, embora o Governo do Estado quisesse considerá-la, pois muitos dos presentes haviam assinado a lista de presença, porém, finalmente foi obrigado a recuar!
  • Em 2008, já em um ambiente em que diversos companheiros dos anos 80 e 90 passaram a compor o governo estadual, foi o momento de viver as nossas contradições. Trata-se da única audiência pública que discutiu o projeto de lei sobre a Política Estadual de Saneamento Básico, encaminhado à ALBA em 2008 pelo Poder Executivo. Surpresos pelas práticas tomadas emprestadas dos tempos de democracia subtraída, as contribuições da sociedade civil registradas em documento e durante a audiência não foram consideradas pelo Governo do Estado, sendo o projeto de lei aprovado pela ALBA e promulgada a Lei n. 11.172/2008. Lamentavelmente, até hoje não regulamentada pelo Poder Executivo (e já se passaram 13 anos!).
  •  Cabe também o registro das contribuições por mim dadas, com análise crítica e sugestões de conteúdo e forma, para o aperfeiçoamento de projeto de lei sobre criação da Agência Reguladora de Saneamento Básico do Estado da Bahia-Agersa. Infelizmente, não foram consideradas pelo Relator as emendas de conteúdo, sendo o PL aprovado pela ALBA e promulgada a Lei n. 12.602/2012. Infelizmente, uma Agência para inglês ver, que nunca fez um concurso público para contratação de pessoal qualificado para o seu quadro, indo de encontro ao que estabelece a própria Lei de sua criação, e que esse ano está fazendo 10 anos!.
  •  Mas a luta em defesa da Embasa não foi episódica. Foram décadas, quer seja em governos de direita ou durante os governos eleitos com pautas progressitas. Em 2013, houve uma pausa que vale demarcar: a revogação da Lei n. 7.483/1999, que autorizava a privatização da Embasa, aprovada, na época, por esta Casa sob protesto e voto contrário do querido Dep. Paulo Jackson e de outros 15 deputados. A sua revogação ocorreu em sessão especial concorrida, realizada em comemoração do Dia Mundial da Água, em 21/03/2013. O projeto de lei com esse objetivo foi do então Dep. Estadual Joseildo Ribeiro Ramos (PT), aqui presente, hoje Dep. Federal, aprovado por unanimidade, em 07/05/2013, varrendo mais um entulho autoritário da era Carlista.
  • Mas, como a luta anti-capitalista não dá trégua, foi a vez de lutarmos mais recentemente contra o Projeto de Lei n. 24.362/2021, que aponta o caminho legal para a privatização (não imediata) da Embasa e a sua extinção como empresa pública/estatal do povo da Bahia. O Projeto foi encaminhado pelo atual Poder Executivo à ALBA, que o aprovou, na quinta tentativa, com os votos de apenas 26 deputados/deputadas da bancada governista. Tal decisão revela os meandros do poder e da política partidária nesses tempos em que as utopias, a coletividade, não fazem parte da agenda política nem de um partido que, nos anos 80, ergueu a bandeira em defesa dos direitos de cidadania e da democracia.

Assim, essa decisão nada mais é do que uma traição a todos aqueles que, como o saudoso Dep. Paulo Jackson, lutaram por um país mais justo, e, também, é uma revelação ao povo baiano dos interesses reais que motivam as forças políticas na Bahia, ainda travestida de progressista e democrática. O fato das bancadas do PT e dos demais partidos da base do governo aprovarem tal Projeto de Lei expõe o cenário devastador e aniquilador da esquerda no Brasil e na Bahia, em especial quando essa aprovação acontece a despeito dos fortes argumentos e justificações contrárias, diante do prejuízo que causaria à população da Bahia, ao Estado e à Embasa, de vários profissionais e segmentos organizados, bem como da mobilização e lutas travadas pelo Sindae e das manifestações da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento-SMAD do PT/BA, do militante histórico e nobre Dep. Marcelino Galo Lula (PT), que não esteve presente à sessão para não oportunizar quórum à mesma, e do bravo e nobre Dep. Hilton Coelho (PSOL), que esteve presente após a obtenção de quórum e votou contra a aprovação.

Esse episódio ilustra como as forças do capital e a elite brasileira construíram uma estratégia vitoriosa de cooptação de setores progressistas e aniquilamento da esquerda. Assim, venceu, mais uma vez, os interesses do capital, agora sob a saga de um governador em fim de mandato, certamente obcecado por cumprir acordos diversos, indo de encontro a toda luta do povo organizado do estado da Bahia e aos interesses da coletividade, assim como da luta empreendida pelo guerreiro Dep. Paulo Jackson contra a privatização da Embasa durante os governos carlistas, restando à sociedade a judicialização e/ou o desenvolvimento de luta política visando à revogação da Lei n. 14.466, de 31/03/2022.

Mas, não, não permitiremos a privatização da Embasa, como fez o saudoso Dep. Paulo Jackson nas inúmeras lutas que travou dentro e fora dessa ALBA! Continuaremos, sim, a lutar pelo “fortalecimento da Embasa”, princípio estabelecido no Art. 8º, inciso V, da Lei n. 11.172/2008, e para que a Embasa seja submetida ao controle social (Art. 8º, III da mesma Lei), ou seja, ao Conselho Estadual das Cidades, o ConCidades/BA, que deverá ser cada vez mais fortalecido, e à sua Câmara Técnica de Saneamento-CTSAN, instância de controle social.

O querido amigo-irmão Dep. Paulo Jackson – pelas lutas que desenvolveu; por sua trajetória marcada pela coerência política, defesa das causas da água e do saneamento universal, entre outras; pelo seu legado relacionado à busca do cuidado com o meio ambiente e com os seres vivos em geral; pela sua ética e senso de justiça; e pelo seu exercício de cidadania, reconhecido e admirado pelos/pelas colegas parlamentares de diferentes matizes político-ideológicas, homenageado e premiado diversas vezes por sua atuação, dentro e fora, da ALBA –, esse ser humano íntegro e guerreiro, nos deixou um importante legado de valores, visão e práticas, que a Associação Movimento Paulo Jackson – Ética, Justiça, Cidadania se propõe a preservar e disseminar na constante busca pela conquista e implementação dos direitos humanos e sociais. Assim, continuaremos sempre na luta pela construção de uma nova ordem socioambiental, para além do capital, pautada na democracia, igualdade, liberdade, ética, justiça social, justiça ambiental, solidariedade e participação social! Viva o guerreiro amigo-irmão Dep. Paulo Jackson e conclamamos a todos/todas/todes a se posicionarem contra a privatização da nossa Embasa, no plano estadual, bem como contra a privatização das outras companhias estaduais de água e esgoto, da Eletrobras e da Petrobras, já anunciadas, no plano federal, pela importância que representam para o povo brasileiro!

Quantas batalhas travadas em defesa da democracia e do saneamento básico público, universal e de qualidade, como um direito social, na Bahia e no Brasil! Em defesa da água como bem comum, vital a todos seres vivos, e como direito humano essencial, finalmente reconhecido pela ONU em 28/07/2010, após 30 anos de luta. Contra a mercatilização, privatização e financeirização da água. Em defesa da nossa Embasa, patrimônio do povo baiano, e que seja submetida ao controle social.

Algumas dessas batalhas foram vencidas, outras perdidas, outras ainda encontram-se em disputa! Mas como bem pontuou a principal personalidade da independência da Índia, o líder pacifista Mahatma Gandhi “A alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido. Não na vitória propriamente dita”, e o dramaturgo, poeta e encenador alemão Bertholt Brecht “Quem luta, pode perder. Quem não luta, já perdeu”.

Gostaria aqui de resgatar e torná-las também minhas, as palavras do  querido e saudoso mestre de vida e de militância, o Engenheiro Civil e Sanitarista maranhense, Sócio-benemérito da Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento-Assemae, Rodolfo José da Costa e Silva “A cidadania é a minha arma mais poderosa para fazer saneamento, ensinar a fazer saneamento e formar quadros para o saneamento. Com isso, é possível fazer com que este País seja melhor para se viver. Os meus encantos com o saneamento são os encantos da transformação da sociedade.”

Não poderia deixar também de lembrar o educador e filósofo Paulo Freire, Patrono da Educação Brasileira: “Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem aprender a fazer o caminho caminhando, refazendo e retocando o sonho pelo qual se pôs a caminhar”.

Na minha trajetória, nos passos da minha caminhada, pude contar com muitos  outros passos que foram dados comigo. A estes companheiros/companheiras caminhantes, alunos/alunas, professores/professoras, aos colegas profissionais, aos militantes das minhas áreas de atuação, aos militantes do movimento social e popular, do movimento sindical e do movimento ambientalista, incluindo os do Grupo Ambientalista da Bahia, o nosso Gambá, que completou 40 anos de lutas em defesa do meio ambiente e da cidadania, em 14/04/2022, aos bravos/bravas representantes do Poder Legislativo, do Poder Executivo nas suas diferentes esferas e do Ministério Público identificados com as causas populares, aos familiares da longa jornada, aos meus pais queridos Tiêta e Enádio Moraes, que se encontram em outra dimensão, filhos/filha, irmãos/irmãs, cunhados/cunhadas, sobrinhos/sobrinhas, tios/tias, primos/primas e sogro, aos amigos/amigas e colegas, sou levado a dizer, a todos/todas/todes vocês: meu imenso MUITO OBRIGADO! Essa honraria a mim outorgada é compartilhada com todos vocês!

Ao mesmo tempo, se fui capaz de chegar até aqui, de realizar minhas conquistas, atingir meus objetivos, colher os frutos de meu trabalho, foi porque lá estava minha companheira de vida, Patrícia Campos Borja, ex-aluna e depois minha colega na UFBA, com a sua presença, seu conhecimento, seu apoio, seu carinho e seu permanente AMOR.

Muito obrigado a Ana Torquato, Néa Ramos, Bete Wagner e a equipe do Cerimonial da ALBA pela organização desta Sessão Especial, bem como a todos que me saudaram e ao Madrigal da UFBA.

Queria também agradecer à dupla Patrícia e Dr. César Machado e aos Drs. Jorge Bastos e Vladimir Neco, e a todos/todas profissionais que contribuíram para salvar a minha vida em 2018 e em 2019, respectivamente, e ao carinho, apoio e orações dos familiares e amigos/amigas, bem como agradeço à Energia Cósmica que me iluminou nesses momentos difíceis e que tem me iluminado ao longo da vida.

Quanto às minhas perspectivas futuras, pretendo me cuidar melhor, bem como dispensar mais tempo à Patrícia, aos meus filhos queridos Jorge, Juliana, Daniel e Gabriel, às minhas noras-filhas Fernanda e Letícia, ao meu genro-filho Fábio e aos meus netos queridos Pedro, Beatriz, Bernardo, Maria Carolina e Maria, pedindo desculpas a eles pelo tempo das ausências devido ao trabalho e à militância, e continuar a me envolver, quando possível, em atividades em nossa comunidade no exercício da cidadania. Desejo também me dedicar à leitura literária e redigir livros relatando passagens de minha vida, a fazer meditação e aprender a tocar saxofone, um grande desejo de vida, para poder tocar o Hino ao 2 de Julho.

Como ser humano, cientista e trabalhador intelectual recentemente aposentado, militante e cidadão do mundo, tenho que continuar a me relacionar com as lutas da humanidade. Nunca as separei e as separo das minhas atividades profissionais e do sonho de transformar a sociedade que aí está em uma outra que radicalize a DEMOCRACIA e que considere a justiça social, a justiça ambiental, a justiça sanitária e a justiça cognitiva, pois acredito que isso é possível!

Concluo com uma estrofe do Hino ao 2 de Julho:

“Nunca mais, nunca mais o despotismo

Regerá, regerá nossas ações!

Com tiranos não combinam

Brasileiros, brasileiros corações!”

Viva o Brasil! Viva a Bahia! Viva a Democracia! Viva a Educação! Viva a Ciência! Viva o SUS! Viva a Universidade Pública! Viva a nossa UFBA! Viva a Vida!

Muito obrigado!

 

 

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